sexta-feira, 30 de junho de 2017

ouve. descalcei-me e despi-me.
tenho a alma em carne viva. ouve.
descobri o lugar onde bate o coração.

fotografia: daqui

"Remember her hair as it shone in the sun,
The smell of the bed when I knew what she'd done.
Tell yourself over and over
You won't ever need her again"


quinta-feira, 29 de junho de 2017

ouvir citações de brecht no elevador.

bem melhor do que a tradicional leitura "6 pessoas / 400 kg"

está ganho o dia.


queria ainda dizer-te:

o marulhar dos papéis dentro do bolso lembra-me a tua voz
lembra-me a tua boca encostada aos meus dedos
como que a apagar a linha da vida, tão pouco linha
tão pouco vida

mas queria ainda dizer-te:

talvez não te venha à memória nenhum dos nossos abraços
e eu carregue infinitamente essa ausência.


fotografia: Orkun Mungan

é preciso encontrar uma palavra qualquer no meio da tralha. remexer os maços de tabaco vazios, a carteira, os bolsos, levantar os tapetes, pendurar os cobertores na janela, raspar a tinta das paredes, é preciso encontrar uma palavra que nos ligue. eu a ti, tu a mim, no meio da tralha que é preciso deixar para trás. é preciso, digo-te, é preciso o teu corpo. mas mais do que o teu corpo, é preciso a tua essência, todo o teu ser, a linha do teu corpo. no meio da tralha eu preciso encontrar-te. encontrar uma palavra que me diga estás vivo. que me diga estou viva. e é preciso, é mesmo preciso abrir os olhos mais uma vez.



encosta o ouvido à parede, para ouvir falar de amor como se não houvesse trânsito lá fora. como se a miséria do quotidiano fosse evitável. sabe saltar os dias como quem salta pedras no riacho ou como quem ergue uma espada invisível de cansaço e regresso. e ama como quem limpa a baba depois de acordar ou abre uma janela para um rua sem sol.

fotografia: kjeksomanen

quarta-feira, 28 de junho de 2017

a esta hora a rua em frente está vazia.
o tempo faz-te uma festa na cara (imagino)
o que fazer de um amor do qual só sobrou raiva
o que fazer desta rua sem vida onde o tempo
tem mais ternura que os olhares dos homens?



olhar para dentro
olhar por dentro
da dimensão dos astros
ou a pele nem macia
nem áspera
ou nem a pele
a olhar por dentro
as mãos a arder
de medo, de vazio
restolho do príncipio
do amor




quarta-feira, 14 de junho de 2017

onde tu tocas há um silêncio que dói
um lugar onde já não são mãos
e as línguas não servem para atear incêndios





quarta-feira, 7 de junho de 2017

dizer-te o que é preciso
é dizer o silêncio
ser a ave que repousa
na claridade do sal