sexta-feira, 26 de maio de 2017

quando o esquecimento era só
uma rua que começavas a descer
e nem sabíamos falar a nossa língua



quarta-feira, 10 de maio de 2017

tira-me de mim. tira-te de mim.


talvez exista perda em todos os poemas
e o filme não tenho começado no princípio
as mãos talvez tenham chegado só no intervalo

acho que percebi o que me dizias.

deixar o coração à sombra
é isso.
o coração à sombra.


terça-feira, 9 de maio de 2017

no quarto

recortarias a infância
em pequenos pedaços de papel
imaginário
um corte fundo nas aves do princípio
do mundo

no quarto

a inventar formas anatómicas
formas astrológicas de ser feliz
as mãos a apertar com força
o que sobrou dos olhares
que derramaste janela abaixo

no quarto

o incêndio e a mágoa
as ânsias e os desejos
a contemplação do afogamento.



segunda-feira, 8 de maio de 2017

pensar que é possível sê-lo sozinho

para lá de todas as concepções

a voz rouca da segunda-feira de manhã
ou todas as janelas da casa por abrir

pensar que é possível ser-te sozinha

e que

talvez o mar nos chegue ao coração


se eu soubesse ao menos
distinguir as cores da inanição
as sombras nítidas do desassossego
um pássaro que pousa no limite
do telhado
e faz estremecer


o mundo



fotografia: Pierre Manly

sexta-feira, 5 de maio de 2017