quarta-feira, 19 de abril de 2017

estar aqui
eu
não estar aqui
eu
o mundo igual.
eu sem mim
o mundo igual.



fotografia: Rob Cartwright




terça-feira, 18 de abril de 2017

nunca aprendi nada
.nem quero.
serei sempre estes
olhos vivos das crianças
esta inocência lisa
dos inocentes.



quinta-feira, 13 de abril de 2017

apertada
curva à esquerda
a do teu coração



fotografia: Marissa Walker

nunca quis ter um pássaro.
quis sempre ser um.




The Departure (LaRuephotography)

Às vezes é só isto.
às vezes nem isto.



podia ser a última luz
da última rua da tua cidade
ou o último passageiro a sair
do vagão metálico carregado
de cansaços.
podia ser o último cigarro do maço
a última página de um livro roubado
na casa de um amigo.
mas é uma flor a cair, é a primavera
a ameaçar chover.



segunda-feira, 10 de abril de 2017

e uma canção há-de sussurrar-te assim:

belo é tudo o que nasce torto
entrega ao meu peito o que em ti está morto.

e tu hás-de gostar de mim.


sexta-feira, 7 de abril de 2017

blogger

tema.

simples.
nada cura a falta de querer.

o abandono é só uma forma de tornar denso o nevoeiro.

e os teus olhos não cabem em nenhuma carta de amor.
é difícil acreditar hoje que os teus dedos
já souberam de cor as minhas ânsias


fotografia: Anders Petersen

seremos cada vez mais velhos
e
estaremos cada vez mais longe
mapa astral dirão os crentes
destino, fé, coincidência
falta de alternativa
escolha, dirão os céticos

estaremos cada vez mais cansados
sem paciência para os sonhos
dos outros.

sem vontade de abrir os olhos
e tocar com ternura a falta
que sentem de nós.



fotografia: Tatiana Domazetovich

amanheço sem qualquer glória. as mãos dormentes, tenho dificuldade em segurar o copo de café. todas as vozes me irritam mas sorrio. afinal, só faltam uns 40 anos ou o raio que parta mais a esperança média de vida dos covardes.



quinta-feira, 6 de abril de 2017

é o que é
não o que tinha que ser.


a mão que segura o rosto
  o fósforo que acende o cigarro
    os dedos que se afundam nos dias
     e os lábios que não sabem onde dormir.



fotografia: John Perivolaris

disseste: um dia vou fotografar-te.

e eu um dia vou esquecer-me.



eternal sunshine of the spotless mind

agora que encostamos finalmente
todas as cadeiras à parede
e no estuque já só sobram pregos
ligeiramente dobrados, ligeiramente
enferrujados, como os nossos ossos
mais antigos.
agora, que da cal sai um leve som
de assobio. talvez o carteiro
talvez o senhor que vem ver
o contador da luz, ou entregar
publicidade onde finalmente
finalmente, os teus iogurtes
preferidos estão em promoção.
agora, que é o tudo e o nada que
te alegra e sabes que a felicidade
é uma coisa de se pôr dentro dos
livros.


fotografia: Vitor Dente

quarta-feira, 5 de abril de 2017

esta janela muito larga
e o gato esticado no
último raio de sol
um dia bonito com
vinho à mesa e um
livro com cheiro a
novo.

e tudo me falta.


fotografia: daqui

quanto de mim
para te deter?
para te trazer
ao meu peito
e adormecer.





terça-feira, 4 de abril de 2017

um deus tão idiota
como uma canção de amor
que me dê à boca
todos os significados.


segunda-feira, 3 de abril de 2017

é o peito que me dói
é o peito
de saber que é no teu colo
que o mundo começa.



fotografia:  Philip McKay




acredita em mim

quando te digo


que os teus olhos têm
a inclinação perfeita
do desejo.



blue is the warmest colour

uma dor
que não cabe
no infinito


rituais


dedos para atear incêndios
palavras que se acendem
debaixo da língua

as estrelas mais nuas
do que tu e eu
os astros, mentiras
de trazer por casa.

o pensamento mais
rápido do que a luz
do candeeiro velho

a boca à procura
de um lugar
para morrer